Ambientalistas e especialistas são contra a instalação de um incinerador na Baixada Santista, em São Paulo, para resolver o problema da destinação de resíduos sólidos na região, conforme proposta do Plano Regional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT), órgão ligado ao governo de Geraldo Alckmin (PSDB).

Nesta quarta-feira (7) o plano será apresentado à população em audiência pública em Praia Grande, no litoral sul. A justificativa é que o aterro Sítio das Neves, em Santos, só tem condições de operar por mais um ano e meio.

O professor Hélio Lopes, coordenador dos cursos de pós-graduação em Engenharia e Segurança do Trabalho, Gestão Ambiental e Engenharia Legal na Universidade Santa Cecília (UniSanta), diz que a opção pela incineração é “anacrônica”, perigosa e com custos elevados. Em vez disso, ele aponta soluções como a reciclagem, compostagem ou tratamento biológico. Segundo o professor, a incineração cria resíduos que são muito mais perigosos que o próprio lixo, e que, por sua vez, precisam ser armazenados em outro tipo de aterros, que exigem preparação adequada.

O “tratamento térmico”, ou queima do lixo, também libera partículas cancerígenas. Mesmo com filtros de carbono e precipitadores eletrostáticos, esses procedimentos não são 100% eficientes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não há limites seguros para a liberação na atmosfera desses compostos.

“É um sistema que não resolve definitivamente o problema dos resíduos, cria outros ainda mais perigosos, proveniente da própria queima. Cria também uma ‘lama’ dos lavadores de gases, além das cinzas volantes. Portanto, do ponto de vista ambiental, é muito ruim. Temos outras tecnologias, não sei porque insistem no incinerador”, afirma o professor em entrevista à Rádio Brasil Atual.

Ele diz que a tecnologia em voga atualmente, em todo o mundo, é a chamada digestão anaeróbica. “É um tratamento biológico que vai transformar o lixo, principalmente o orgânico – que é a grande parte–, em gases que podem ser queimados, como o metano. Um terço do material vira adubo orgânico. Já os gases podem ser utilizados para a geração de energia. Não tem praticamente desvantagem nenhuma, e custa muito menos que um incinerador.”

Já o ambientalista Ibhaim Tauil, integrante do grupo de meio ambiente do Fórum da Cidadania de Santos e da Aliança Resíduo Zero Brasil, diz que as organizações solicitaram a intervenção do Ministério Público no caso. O ativista afirma também que os dados apresentados no relatório do IPT são inconsistentes e apresentam “uma série de discrepâncias”.

Ele lembra que o poder público da região da Baixada, e também do estado, já haviam manifestado apoio à implantação do incinerador mesmo antes do estudo do IPT – que, ainda segundo, Tauil, custou R$ 700 mil. “Se já eram tão favoráveis antes, e já havia essa decisão pela instalação, então pra que o estudo?”, questionou.

A audiência pública sobre o Plano Regional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da Baixada Santista será realizada nesta quarta, a partir das 18h30, no auditório da Secretaria de Educação de Praia Grande (Rua José Borges Neto, 50, no bairro Nova Mirim).


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